Como modificar os (maus) comportamentos nas crianças

 

Cada criança é um mundo e não existem estratégias universais eficazes para todas. O que funciona num caso pode não ser eficaz noutro. Mesmo assim, há uma série de princípios que se utilizados com a suficiente habilidade podem ajudar a estabelecer, modificar ou eliminar alguns comportamentos nas crianças. Estes são:

OS LIMITES: São fundamentais. Todos os pai devem colocar limites aos filhos. Se os limites não forem estabelecidos nos primeiros anos de vida, será bem mais difícil estabelecê-los depois. Explique ao seu filho o seu ponto de vista tranquilamente e com uma linguagem adequada à idade da criança. Não utilize o tom imperativo nem os gritos. Faça-lhe saber que você está triste e desgostado com o comportamento dele (ou dela), que está dececionado, mas mantenha-se firme na sua posição. É necessário estabelecer, desde a primeira infância, hábitos adequados no que se refere à alimentação, ritmo de sono, higiene, etc. São os próprios pais que têm que marcar limites e normas em função da idade da criança e dos seus valores educativos. Pôr limites não deve ser um trabalho coercitivo, mas sim um jogo de equilíbrios, no qual a criança aprenderá o sentido de dar e receber, ao mesmo tempo em que vai interiorizando uma série de princípios e valores que lhe servirão como referentes no futuro.

CLAREZA: Seja claro quando der as instruções. Se queremos estabelecer limites, a criança deve saber exatamente o que lhe estamos a pedir. Se dissermos ao nosso filho ou filha: “comporta-te bem” ou “para de chatear!” isto pode supor diferentes coisas em diferentes situações. É mais eficaz concretizarmos o pedido numa situação concreta. Por exemplo, numa situação de passeio pela rua diremos: "não atravesses até o sinal mudar", em casa durante uma brincadeira: "não tire o brinquedo à tua irmã". 

ATENÇÃO: Dê atenção ao seu filho(a) quando ele realizar as condutas desejadas. O elogio verbal e sincero funciona muito bem como apoio de outros reforços. Em caso de aparecimento de uma conduta inapropriada (gritos, birras...) retire a atenção. Um prêmio não esperado e contingente à realização de alguma conduta desejada aumenta a probabilidade de que o comportamento se repita.

PARTICIPAÇÃO: Quando se estabelecem limites ou regras, estes devem ser respeitados por todos os membros da família. Pais, irmãos ou avôs devem atuar de igual modo diante do mal comportamento das crianças. Se só o pai ou a mãe exige certos requisitos, o avanço torna-se complicado senão impossível.

MINIMIZAR: Quando der instruções à criança, minimize o NÃO. É mais efetivo o dizer-lhes o que devem fazer do que o que não devem fazer. Por exemplo, é melhor dizer: "Fala mais baixo” do que "Não grites!". A primeira será vivenciada como uma sugestão e a segunda como uma imposição.

Devemos sempre desaprovar o comportamento indesejável (morder, desobedecer, gritar) nunca a criança (você é um desastre, é muito mau, é chato...).

ESCOLHAS: Deixe o seu filho escolher. Podemos minimizar a probabilidade de desobediência se proporcionamos à criança várias opções para que ela escolha. Por exemplo, em vez de dizer: "Junta os brinquedos", podemos dizer: "Deves guardar os brinquedos que estão espalhados pelo chão, mas pode escolher dois ou três para continuares a brincar. Desta forma, lembra o seu filho que a responsabilidade de guardar os brinquedos é dele, mas, ao mesmo tempo, ele terá certa sensação de controle sobre a situação e tolerará melhor o pedido do adulto.

Uma vez estabelecido o hábito de recolher e guardar os brinquedos provavelmente o fará sem pedidos nem queixas e sem ajuda.

EXPLICAÇÃO: Acompanhe o seu pedido com uma explicação. Se dermos uma explicação a uma instrução dada podemos ajudar a que interiorizem valores de conduta. Por exemplo, podemos dizer-lhe: "Se bateres nos teus amigos, eles vão ficar tristes e não vão querer brincar mais contigo". Ele deve entender que o que pedimos não é por capricho, mas porque o comportamento dele trará efeitos desagradáveis nas pessoas e que isto traz consequências. 

ALTERNATIVA: Quando tivermos que dizer NÃO, poderemos minimizar o efeito negativo com uma alternativa: "NÃO vais comer chocolate antes do jantar, mas se comeres toda a comida a mãe faz aquela sobremesa de que tanto gostas".

FLEXIBILIDADE: Devemos criar limites e regras, mas ao mesmo tempo devemos aprender a ser flexíveis em algumas situações especiais. As crianças crescem e os problemas e suas circunstâncias mudam. Devemos estar abertos para revisar e modificar o sistema de contingências quando necessário. Uma rigidez extrema na configuração do sistema e das regras é o melhor convite para que a criança não as cumpra. 

COERÊNCIA: Deve haver coerência entre o que exigimos das crianças e o que elas observam no seu meio mais imediato. Não podemos pedir obediência e respeito a uma criança que vive num meio de menosprezo ou maltrato familiar.

CONTROLE: Controle as emoções. Quando o seu filho repetir um comportamento não desejado, quando receber um telefonema da escola... "respire fundo" e procure acalmar-se antes de responder e de se descontrolar. É fundamental o controle das nossas emoções. O nosso objetivo é educar a criança. Se formos demasiado emocionais não estamos em condições de oferecer o melhor modelo de nós mesmos. Respire fundo, retire a atenção da criança conforme as circunstâncias lhe permitam, faça o seu filho sentir o seu desgosto e depois mais tarde analise a situação e tome as decisões oportunas. Não reaja “a quente”. Não caia na armadilha de se envolver num diálogo de recriminações com seu filho. É a melhor forma de acabar estabelecendo um tipo de relacionamento conflituo e coercitivo que não vai levar a lado nenhum. Isto não quer dizer que o mau comportamento não deva ter consequências para a criança. As consequências que devem ser pensadas “a frio”, mas aplicadas o mais cedo possível para que sejam eficazes.

CONSTÂNCIA: É básico ser constante na aplicação de qualquer estratégia que queira modificar ou estabelecer comportamentos. Não se deve desanimar se não resultar. Muitas vezes ocorre que quando são aplicados limites ou regras pela primeira vez, se produz uma reação negativa. Isto é especialmente notável naqueles casos em que a criança percebe que certos privilégios vão ser retirados. Isso pode provocar, de início, um aumento da frequência e magnitude dos episódios problemáticos que depois, na maioria de casos, diminuem e se corrigem.

Por Mirian Kedma Marques Pereira, Psicoterapeuta, Educadora Perinatal